Com o advento da realização do Pentálogo XI, o Ciseco elaborou uma série de entrevistas com os conferencistas do evento deste ano, a fim de elucidar aspectos da temática “Pandemia: sentidos em disputa”, que serão desenvolvidos nas conferências, ao longo do evento. Seguindo com o ciclo de estudos, o Ciseco entrevistou o Prof. Dr. Sérgio Dayrell Porto, que ministrará a próxima conferência do Pentálogo XI, no dia 11 de novembro, às 14h, no canal do Ciseco no YouTube.
A conferência pode ser acessada clicando aqui.
Sérgio Dayrell Porto é e doutor em Communication - Graduate Program in Communication - McGill University (1983) e mestre em Comunicação pela Universidade de Brasília (1977). Atualmente é pesquisador colaborador da Universidade de Brasília e professor pesquisador da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Teoria da Comunicação, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação, análise do discurso, crítica da cultura, acontecimento e espaço público.
A programação completa está disponível aqui.
Eis a entrevista.
Ciseco - Qual a importância que tem o tema geral do Pentálogo XI, segundo o seu ponto de vista de um pesquisador de sua área de conhecimento?
Sérgio Dayrell Porto - Pandemia – múltiplos sentidos. O Ciseco – Centro Internacional de Semiótica e Comunicação se interessa muitíssimo sobre um diagnóstico, o mais abrangente possível, deste imenso flagelo:
O mundo está doente
No interior de sua forma circular de um globo terrestre, a pandemia de Covid-19 já matou mais de 5 milhões de pessoas. Em análises mais macabras, pensa-se em um número três vezes maior de mortes – de 15 a 17 milhões de seres vivos. No Brasil, já estamos atingindo a cifra de 610 mil óbitos.
E no exterior de nosso globo terrestre, assistimos ao início da corrida das espaçonaves, quando multimilionários como Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson disputam uma nova corrida espacial, gastando e também perdendo uma infinidade de dólares em seus projetos estratosféricos, em que se colecionam alguns sucessos e inúmeros fracassos. Mesmo assim, eles acham que a salvação de nosso planeta está em seus projetos em que o mundo é visto de cima, e que a vida cá embaixo já não mais oferece perspectivas de sobrevivência e salvação.
Quais são os ângulos principais que o senhor vai abordar na sua comunicação?
Storytelling:
Aqui começa a nossa história, ao estilo ‘storytelling’, cujos personagens principais e sujeitos predestinados são a médica Ticiane, seu namorado – o pintor Modi, e sua amiga íntima Kéfera, historiadora do antigo testamento. Eles leram em conjunto estas mensagens da proposta temática do Pentálogo XI do Ciseco e através da internet a propaganda da Microsoft ‘Vivendo nas Nuvens’, assumindo o compromisso de fugirem para as nuvens, exatamente aquelas que cobrem, em dias nublados a cidadezinha de praia – São Miguel dos Milagres –, em Alagoas, Brasil. Eles se impressionaram com a postura de uma tecnologia de ponta, que usa sistemas sustentáveis para minimizar o impacto ambiental. Ao mesmo tempo, no início de outubro de 2021, eles fugiram virtualmente para Glasgow, na Escócia, para participar da COP26, com prévio encontro marcado com Jeff Berzos, o CEO e fundador da Amazon. Deixaram para o próximo ano de 2022, o encontro do Ciseco em Japaratinga, Alagoas, na realização de seu Pentálogo XII. Vejam vocês que tudo se passa pelas Alagoas, no Brasil, sob especial proteção de São Miguel dos Milagres.
Esta fala de Bezos os impressionou muito: “Precisamos conservar o que ainda temos, precisamente restaurar o que perdemos e precisamos viver sem degradar o planeta para as futuras gerações que virão”.
A história se passa em São Miguel Dos Milagres:
Este romance, além dos interlocutores habituais – caros leitores, mantém uma relação estreita com um principal leitor, até mesmo, confabulador, São Miguel dos Milagres, melhor ainda, São Miguel Arcanjo, o grande defensor dos desígnios de Deus.
Decorridos 2 meses de pandemia, como o senhor avalia o desdobramento de discursos em disputas sobre a pandemia, segundo ângulos dos estudos que o senhor realiza?
Embasamento teórico
Da hermenêutica à semiótica literária
“Chamemos hermenêutica ao conjunto de conhecimentos e de técnicas que permitem fazer falar os signos e descobrir seu sentido; chamemos semiologia ao conjunto de conhecimentos e de técnicas que permitem distinguir onde estão os signos, definir o que os institui como signos, conhecer seus nexos e as leis de seu encadeamento. O século XVI (1.500 a 1.600) superpôs semiologia e hermenêutica na forma da semelhança. Por isso, saber para o renascimento, não é ver, nem demonstrar, mas comentar, dobrar uma linguagem com outra. O trabalho de comentar, por um lado, é uma tarefa infinita; todo comentário poderá ser, por sua vez, dobrado por outro comentário. Mas, por outro lado, por debaixo de todo comentário, situa-se o Texto primitivo, cujo sentido há que se restituir. A linguagem do século XVI (grandes descobertas marítimas, renascimento, mercantilismo) entendida não como um episódio na história da língua, mas como uma experiência cultural global) se encontra aprisionada sem dúvida nesse jogo, nesse interstício entre o Texto primeiro e o infinito da interpretação” Foucault – As palavras e as coisas (1966).
Na literatura não temos a soberba da criação primeira de qualquer texto, seja ele qual for. Somos repetidores, comentaristas, semiólogos, intérpretes. Está aí diante de nós, a pandemia, que não nos deixa mentir. Onde estaria o texto primitivo desta mega contaminação da humanidade, corroída por um vírus devastador?
A fuga e o medo do castigo divino
O texto primeiro da pandemia: um castigo divino a uma desobediência inaugural
As maldições do livro Levítico, 14 a 23
“Mas se não me ouvirdes e não praticardes todos estes mandamentos, e rejeitardes os meus estatutos, desprezando as minhas normas e quebrardes as minhas alianças... porei sobre vós o terror, o definhamento e a febre, que consomem os olhos e esgotam a vida. Debalde semeareis a vossa semente, porque os vossos inimigos a comerão. Voltar-me-ei contra vós e sereis derrotados pelos vossos inimigos... soltarei contra vós as feras do campo, que matarão os vossos filhos, reduzirão o vosso gado e vos dizimarão, a ponto de se tornarem desertos os vossos caminhos”
O que é um contraponto?
É aquilo que, embora apresente contraste ou oposição, complementa um assunto ou texto.
Em termos musicais, composição que sobrepõe melodias diferentes, para serem executadas ao mesmo tempo.
Tema que acrescenta, adiciona uma informação ao assunto, ou apresenta contraposições, opiniões opostas, em relação ao mesmo.
O contraponto é uma fuga
A fuga se originou da técnica de imitação em que o mesmo material musical era repetido começando numa nota diferente. [...] A “arte da fuga” é uma coleção de fugas sobre um único tema que é gradualmente transformado à medida que o ciclo progride... a escrita de uma fuga tem suas raízes na improvisação e foi, durante o barroco, praticado como uma arte de improvisação... O último movimento da famosa “ sonata para piano” de Samuel Barber, tem um tipo de fuga modernizada que em vez de obedecer à restrição do número de vozes, desenvolve o sujeito e o motivo de topo – head-motif – em várias circunstâncias contrapontísticas...
Uma fuga raramente para depois de sua exposição inicial, continuando, frequentemente, por um ou mais episódios de desenvolvimento.
Na sua opinião, qual a contribuição deste evento para o avanço dos estudos que envolvem pandemia e comunicação?
A temática do Pentálogo XI
“Nesse ambiente de vida e morte, em que muitas enunciações exteriorizam marcas de sofrimento pelos que se foram e pelos tempos incertos do dia seguinte, o Ciseco anuncia neste contexto de múltiplos sentidos – lutas, perdas, desamparos, reverências, esperança e vida – a realização do seu Pentálogo XI, e elege a pandemia e narrativas sobre sua manifestação como tema de seus trabalhos”.
“Vivemos nas nuvens
Explore o mundo escondido dos datacenters
A nuvem é o motor que move nossas vidas diárias, fornecendo recursos para o dia a dia em todo planeta.
Do trabalho remoto às compras online, dependemos cada vez mais da computação em nuvens. A Microsoft Cloud é sustentada por centenas de datacenters globais interconectados que entregam com segurança conteúdos e serviços em sua confiável plataforma Azure, situada em Cingapura. Dê uma olhada dentro de um datacenter da Microsoft para aprender como fornecemos tecnologia de ponta, usando sistemas sustentáveis para minimizar o impacto ambiental e inovando para redefinir como os datacenters trabalham e o que podem fazer”.
Mencione referências de trabalhos sobre o tema pandemia e comunicação.
PORTO, Sergio Dayrell. A Arca das Sacristias de Minas – Um romance à margem das veredas do Grande Sertão. São Paulo, Editora Lux, 2021, 147 páginas.