João Verani Protasio e Inesita Soares de Araujo
Laces/Icict/Fiocruz
Resumo
Um dos temas que chamou atenção nos meios de comunicação no início de 2018 foi a febre amarela. A doença, que tem como transmissores mosquitos silvestres, atinge primeiro os macacos, muitas vezes de forma letal. Além das mortes pela doença, foram encontradas centenas de macacos vítimas de maus-tratos, o que gerou uma campanha nas redes sociais em defesa dos primatas. Este trabalho integra uma pesquisa mais ampla sobre a dimensão comunicacional da febre amarela e objetivou circunscrever vozes e sentidos possíveis nos textos da campanha de combate a violência contra os macacos nos seus processos de midiatização. A pesquisa é uma atividade do Observatório Saúde nas Mídias, que monitora, analisa e faz circular resultados de estudos e pesquisas sobre os sentidos da saúde nas diversas mídias, ancorando-se na semiologia dos discursos sociais. Especificamente, foram monitoradas as publicações na rede social Facebook da campanha #ACulpaNãoÉDoMacaco, tendo a própria hashtag como ferramenta de busca, durante o mês de janeiro de 2018. A campanha começa ainda em 2017, mas toma proporções maiores em 2018, gerando eco em variadas instituições governamentais, figuras públicas, organizações em defesa dos animais e do meio ambiente e população em geral. Foram identificados quatro enfoques discursivos nas postagens: jurídico/penal, epidemiológico, ambientalista e moral. Entre os recursos argumentativos, os mais comuns foram o humor, o risco, o apelo à sensibilidade e à justiça e o intertexto artístico-religioso. Sobre as razões do ato de violência, foram denunciadas a desinformação e a ignorância. A pluralidade de vozes com seus discursos de múltiplos registros possibilitou a produção e circulação de diferentes sentidos em defesa dos macacos, apontando para um engajamento social na campanha, sendo a rede social digital catalisadora desse movimento, mas sem contestação. Problematiza-se a pertinência de veicular uma campanha como essa, com abordagens que supõem um intertexto mais elaborado, destinada a pessoas com menos acesso a informações qualificadas, numa rede social como o Facebook, onde a circulação é feita em redes de afinidades.
Abstract
One of the themes that drew attention in the media in early 2018 was yellow fever. The disease, which has as transmitting wild mosquitoes, first reaches the monkeys, often in a lethal manner. In addition to the deaths from the disease, hundreds of monkeys were found victims of maltreatment, which generated a campaign in the social networks in defense of the primates. This work integrates a broader research on the communicational dimension of yellow fever and aims to circumscribe voices and possible meanings in the texts of the campaign to combat violence against the monkeys in their mediatization processes. The research is an activity of the Observatório Saúde nas Mídias, which monitors, analyzes and circulates results of studies and research on the meanings of health in the various media, anchoring itself in the semiology of social discourses. Specifically, the publications on the Facebook social network of the #ACulpaNãoÉDoMacaco campaign were monitored, having the hashtag itself as a search tool during the month of January 2018. The campaign begins in 2017, but takes on greater proportions in 2018, generating echo in various government institutions, public figures, animal and environmental organizations, and the general population. Four discursive approaches were identified in the postings: legal/penal, epidemiological, environmental and moral. Among the argumentative resources, the most common were humor, risk, appeal to sensitivity and justice and the artistic-religious intertext. Regarding the reasons for the act of violence, disinformation and ignorance were denounced. The plurality of voices with their multi-record discourses enabled the production and circulation of different senses in defense of the monkeys, pointing to a social engagement in the campaign, the digital social network being the catalyst for this movement, but without any challenge. The relevance of running a campaign like this is problematic, with approaches that assume a more elaborate intertext, aimed at people with less access to qualified information, in a social network like Facebook, where circulation is done in affinity networks.
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