Midiatização e Reconfigurações da Democracia Representativa
SEGUNDA-FEIRA, 26/11
Manhã – Coordenação Antônio Heberlê
9h30 Abertura
10h “Democracia Representativa: além da midiatização, a nova circulação?” - Mario Carlon – Universidad de Buenos Aires/Argentina
10h30-11h Debate
Tarde – Coordenação Inesita Soares Araújo
14h “Aparelho de insatisfação midiatizada no capitalismo comunicacional: como manter a democracia?” - José Luiz Aidar Prado – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Brasil
14h30-15h Debate
15h Intervalo
15h30 “Das funcionalidades técnicas aos processos da comunicação” - José Luiz Braga - Universidade do Vale do Rio dos Sinos/Brasil
16h-16h30 Debate
TERÇA-FEIRA, 27/11
Manhã – Coordenação Pedro Russi
9h “Opinião pública, imaginário político e identidades nos protestos brasileiros” - Gustavo Said – Universidade Federal do Piauí/Brasil
9h30-10h Debate
10h Intervalo
10h30 “Indivíduos, redes, multidões. Representação política e imaginários sobre a cidadania na Argentina do Século XXI” - Mariano Fernandez– Instituto Universitario Nacional de las Artes/Argentina
11h-11h30 Debate
Tarde – Coordenação Eloísa Klein
14h “Direito, Democracia e a “Autopoiese das Fake News”: da regulação dos sujeitos para a regulação nas(das) organizações” - Guilherme Azevedo – Universidade do Vale do Rio dos Sinos/Brasil
14h30-15h Debate
15h Intervalo
15h30 “As estratégias discursivas das “fake news” nas eleições brasileiras de 2018” – Fernanda da Escóssia – IBMEC/Rio / CPDOC/FGV
16h-16h30 Debate
QUARTA-FEIRA, 28/11
Manhã e Tarde - Colóquio Semiótica das Mídias
Noite - Lançamento do E-book e Conferência Principal – Mesa – Coordenação Antônio Fausto Neto
19h “Relações entre midiatizações, sociedades democráticas e racionalidade individual: apontamentos sobre textos encontrados no Arquivo de Eliseo Verón”
Expositores: Suzanne Chevigné, Natalia Anselmino, Gastón Cingolani
19h40 Debate
QUINTA-FEIRA, 29/11
Manhã – Coordenação Laura Guimarães Corrêa
9h “O outro-algoritmo: figurações de coletivos e indivíduos nas plataformas e sites da web” - Gastón Cingolani - Universidad Nacional de las Artes/Argentina
9h30-10h Debate
10h Intervalo
10h30 “A Saúde no processo de ‘uberização da vida’: a (não) alternativa como dispositivo de interpelação que regula e reforça a as estratégias de oligopolização do poder” – Wilson do Couto Borges e Rodrigo Murtinho de Martinez Torres – Fundação Osvaldo Cruz-ICICT-LACES/Brasil
11h-11h30 Debate
Tarde – Coordenação Gastón Cingolani
14h “Cientista e Jornalista, a dupla hélice para compartilhar fazeres e democratizar saberes” - Carlos Alberto Santos – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte /Brasil
14h30-15h Debate
15h Intervalo
15h30 “Mediatização e história da circulação de discursos sobre a ciência na França” - Suzanne de Cheveigné - Centre National de la Recherche Scientifique/França
16h-16h30 Debate
SEXTA-FEIRA, 30/11
Manhã – Coordenação Sandra Nunes Leite
9h “Intelectuais negras em tempos de intensa midiatização: reflexões sobre representação e representatividade” - Laura Guimarães Corrêa – Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil
9h30-10h Debate
10h Intervalo
10h30 “A primeira vítima da guerra: dos estatutos de verdade e realidade no mundo contemporâneo” – Aruã Lima – Universidade Federal de Alagoas/Brasil
11h-11h30 Debate
Tarde – Coordenação Lúcia Lemos
14h “Semióticas cotidianas, a necessidade de outras epistemes ressignificações inferenciais” - Pedro Russi – Universidade de Brasília/Brasil
14h30-15h Debate
15h Intervalo
15h30 Mesa CISECO
Encerramento
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VEJA OS RESUMOS
SEGUNDA-FEIRA, 26/11
Manhã
Abertura
“Democracia Representativa: além da midiatização, a nova circulação?” - Mario Carlon – Universidad de Buenos Aires/Argentina
Resumo: Durante muchos años no se prestó suficiente atención a la relevancia de los procesos de mediatización. Fue durante la posmodernidad, cuando los medios cambiaron de rol en la vida social (se volvieron independientes de otras instituciones sociales, como los partidos políticos; se advirtió que ya no eran solo “espejos” más o menos deformantes, sino dispositivos de producción de sentido capaces de construir acontecimientos, etcétera), que se volvieron evidentes y se desarrollaron algunas de las teorías actuales sobre la mediatización de la vida social. Hoy, en los albores de la era contemporánea, la mediatización se ha vuelto tan evidente que corremos otro riesgo: adjudicarle efectos que la mediatización habilita, pero que no son producto específicamente de la mediatización, sino de un fenómeno distinto: la circulación del sentido. Puesta en juego desde “arriba” hacia “abajo” y desde “abajo” hacia “arriba” por instituciones, medios, individuos y colectivos, la circulación contemporánea tensiona de modo específico e inédito el orden representativo de la democracia tradicional. Los nuevos modos en que la democracia representativa es cuestionada serán privilegiados a partir del estudio de casos específicos en nuestra intervención.
Tarde
“Aparelho de insatisfação midiatizada no capitalismo comunicacional: como manter a democracia?”
- José Luiz Aidar Prado – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Brasil
Resumo: O mal-estar da atual sociedade de consumo do capitalismo comunicacional está ligado aos modos de enfrentar o gozo. Se no passado o supereu era repressivo, hoje ele incita ao gozo, que é hoje ostentado, explicitado, extensamente mostrado. Há uma hostilidade que emerge como percurso passional característico da vida em condomínio em que construímos nossas identidades pela ostentação das diferenças, apresentadas como capitalizações do eu; o outro nos ameaça com seu sequestro de gozo. Isso cria grupos ao redor de lideranças, celebridades, causas homogeneizadoras. Para enfrentar esse contexto muitos sugerem a volta da proibição e a judicialização, como barreiras ao gozo, como formas de restaurar a autoridade perdida com a pós-modernidade. Ao contrário, sustentaremos que a direção deve ser outra, considerando que a rebeldia hoje é um simulacro de liberdade num mundo em que seguir as convocações do capitalismo comunicacional é a regra, a partir da oferta de modalizações para que vivamos sob as promessas de nos realizar no futuro. Insatisfeitos hoje, satisfeitos no futuro, mas sempre isolados como sujeitos neoliberais num horizonte pós-democrático. Como penar, nesse contexto, a democracia?
“Das funcionalidades técnicas aos processos da comunicação” - José Luiz Braga - Universidade do Vale do Rio dos Sinos/Brasil
Resumo: Dar acesso de “processos-mídia” a todos, ou pelo menos a muitos (a que a indústria cultural atribuía o papel estrito de receptores) produziu, como sabemos, grandes esperanças: participação ampliada, transparência, consciência pública bem distribuída, caminhos para a cidadania, coesão social. Como também sabemos, não é o que se instalou. Em vez disso, novos problemas parecem mais automaticamente obtidos: fake-news, algoritmos usurpadores, maniqueísmos, cacofonia, confusões entre o público e o privado, aceleração dos circuitos da tolice. Certamente, a materialidade da mídia importa – mas junto com a invenção de funcionalidades técnicas e a experimentação de acionamentos diversificados é preciso ainda retrabalhar, social e conceitualmente, os macro dispositivos da interação: informação, debate, aprendizagem, persuasão, agonística, ... Esse parece ser o terreno principal onde encontramos dúvidas, descaminhos e novas urgências.
TERÇA-FEIRA, 27/11
Manhã
“Opinião pública, imaginário político e identidades nos protestos brasileiros” - Gustavo Said – Universidade Federal do Piauí/Brasil
Resumo: Os últimos anos, no Brasil, desde as Jornadas de Junho de 2013, passando pelo impeachment da Presidente Dilma Rousseff e culminando com a condenação do ex-Presidente Lula, tem sido de intensa atividade política, seja ela exercida no âmbito de instituições e partidos, seja voltada à ação apartidária de grupos e indivíduos nas ruas e nas redes sociais. Tais ações, protestos e manifestações nas ruas e nas redes sociais, tomados sobretudo na sua dimensão imagética, podem servir como farto material analítico que possibilita: a) pensar a crise do conceito clássico de opinião pública e sua relação com os espaços públicos, privados, físicos e virtuais; b) perceber a reafirmação e/ou da renovação do imaginário político; c) tecer considerações sobre o processo de legitimação de identidades plurais e também particularistas no seio de uma prática política renovada que ainda guarda traços de uma herança recente.
“Indivíduos, redes, multidões. Representação política e imaginários sobre a cidadania na Argentina do Século XXI” - Mariano Fernandez– Instituto Universitario Nacional de las Artes/Argentina
Resumo: La representación política supone, al mismo tiempo, un acto de delegación y un momento de dramaturgia. Por eso, en regímenes democráticos, la representación necesita del espacio público para ejercerse, y necesita, por lo tanto, dotarse de estrategias de mediatización. En una cultura política como la argentina, que tradicionalmente asocia apoyo ciudadano a la visibilidad de las congregaciones colectivas, el gobierno de la Alianza Cambiemos introdujo, a partir su victoria en las elecciones presidenciales de 2015, una variación verosímil y novedosa, en particular si se la contrasta con el gobierno anterior: una representación política que no puede ofrecer el espectáculo de autocelebración colectiva más que como invocación de mayorías sin cuerpo, sin encarnación. A diferencia del kirchnerismo, que encontró en la matriz movilizatoria un esquema predilecto de escenificación del encuentro del líder con los colectivos que le sirven de apoyo y sostén, el gobierno de Mauricio Macri parece no incomodarse con esa prescindencia: la “gente” no necesita reunirse públicamente para existir. Sin embargo, de lo que no puede prescindirse es del espectáculo del contacto: el líder, en su exhibición pública, es siempre el polo de una relación con otro. Nuestra hipótesis es que en las modalidades diferenciales de producir esas escenas se pueden reconstruir concepciones políticas sobre la conformación de la sociedad y el ejercicio de la ciudadanía. Para estudiar este punto, proponemos un estudio comparado de las formas de escenificación pública –por lo tanto, mediatizada- del contacto de la figura del líder presidencial con la ciudadanía, en discursos de Cristina Fernández de Kirchner y de Mauricio Macri.
Tarde
“Direito, Democracia e a “Autopoiese das Fake News”: da regulação dos sujeitos para a regulação nas(das) organizações” - Guilherme Azevedo – Universidade do Vale do Rio dos Sinos/Brasil
Resumo: A presente reflexão se coloca como uma proposta inicial de observação das relações entre Direito e Democracia, diante da acentuação do fenômeno dasFake News na comunicação. Partindo do reconhecimento que o atual momento se caracterizada por uma nova ambiência digital, que fomenta níveis inéditos de indeterminação social, opta-se por observar esse dinâmica a partir de uma teoria das organizações que adota como referencial epistemológico o pensamento de Niklas Luhmann. Inicialmente, procuramos analisar a formação do paradigma da indeterminação social, que surge ao longo do século XX a partir da emergência de novas epistemologias construtivistas, que acabam por questionar os pressupostos do modelo científico herdado da modernidade e, portanto, desarticulam modelos que sustentam noções de verdade, validade e suas decorrentes hierarquias. Neste momento, procurar-se-á posicionar a sociologia de Niklas Luhmann como a primeira teoria pós-ontológica, bem como a sua relevância para a formação de uma teoria social suficientemente complexa e apta a observar a sociedade contemporânea. Posteriormente, procuramos expor a correlação existente entre a formação de organizações sociais voltadas para produção de informação e a necessidade de assimilação de contextos altamente contingenciais, isto é, defendemos a tese luhmanniana de que as organizações surgem como aquisições evolutivas voltadas para a absorção de incertezas sociais. Essa concepção parte da ideia de que as organizações sociais são constituídas por processos de tomada de decisão e, ao mesmo tempo, os viabilizam. É dentro desse modelo que procuramos alinhar os elementos singularizam as Fake News, como resultado direto de uma nova arquitetura comunicacional, sem sujeitos, que desafiam ambições jurídicas regulatórias ainda pensadas dentro de um modelo de individualismo metodológico.
“As estratégias discursivas das “fake news” nas eleições brasileiras de 2018” – Fernanda da Escóssia – IBMEC/Rio / CPDOC/FGV
Resumo: Na mais complexa campanha política desde a redemocratização, o Brasil teve em 2018 uma eleição marcada pelo fenômeno da desinformação – as “fake news”, como o senso comum concordou em chamá-las, apesar do paradoxo original de denominar como notícia algo que é falso. Neste estudo, a autora analisa as “fake news” na eleição brasileira de 2018, tomando como corpus cerca de 60 boatos que circularam nas redes sociais durante os meses de setembro e outubro. Os 60 boatos e seus desmentidos foram recolhidos no site da Agência Lupa, principal plataforma de checagem no Brasil, na qual a autora trabalhou como ombudsman durante a eleição. A partir do referencial teórico da análise do discurso (AD), em diálogo com autores como Eliseo Verón, Fausto Neto e Charaudeau, é possível observar a repetição, no corpus analisado, de marcas que se constituem em estratégias discursivas, quais sejam: o apelo moral, a ameaça comunista, a suspeição das urnas, a ideia de uma campanha vitoriosa e a urgência na disseminação do material. A autora discute ainda como o conceito de “contrato de leitura” ou “contrato de comunicação”, tais como formulados por Verón e Charaudeau, permite uma nova análise: é possível falar em “contrato de leitura” sem a existência de um veículo único? Há contrato de leitura nos discursos das redes? Quem é o sujeito discursivo? A circulação discursiva, tal como tratada por Veron, ajuda a compreender o processo no qual produtores e receptores de mensagens interagem de modos distintos do que até então se via, instaurando novas ordens de significação.
QUARTA-FEIRA, 28/11
Manhã e Tarde - Colóquio Semiótica das Mídias
Noite - Conferência Principal
Mesa: “Relações entre midiatizações, sociedades democráticas e racionalidade individual: apontamentos sobre textos encontrados no Arquivo de Eliseo Verón”
Expositores: Suzanne Cheveigné, Natalia Anselmino, Gastón Cingolani
Resumo: Entre los múltiples materiales y documentos encontrados en el Archivo personal de trabajo de Eliseo Verón (1935-2014), hay un cuerpo de trabajos que son resultado de una reflexión sistemática sobre el intercondicionamiento entre las mediatizaciones y las sociedades democráticas, tanto en lo que hace a la construcción de los colectivos, como a la búsqueda de la comprensión de la llamada “racionalidad” individual. Incluso existen, entre sus papeles de trabajo, agrupamientos de materiales que parecen dar la forma de un libro o proyecto que gira en torno a la idea de “Sociedad divergente”. Esos materiales -algunos finalmente editados, otros desconocidos- son analizados en su carácter productivo, en intertexto con las teorías y métodos de estudios de estas problemáticas sociales.
QUINTA-FEIRA, 29/11
Manhã
“O outro-algoritmo: figurações de coletivos e indivíduos nas plataformas e sites da web” - Gastón Cingolani - Universidad Nacional de las Artes/Argentina
Resumo: Más allá de lo que los algoritmos ordenan por debajo de las superficies de la red, las formas de tomar contacto o conocimiento de los otros toman características y cualidades de figuración que renuevan las condiciones discursivas de la otredad. Dos dimensiones complementarias alimentan la configuración discursiva de esta tensión. Por una parte, el otro es resultado de una selección hecha en otra parte (o parcialmente participada por el usuario), y materializada en los modos retorizados y temáticos de los vínculos: hay semejanzas, cercanías, azares, agrupamientos, ejemplaridades. Por otra parte, la organización se expone como resultado de dos claves opacas: variablemente la selección es tematizada como construcción variable de una capacidad “humana” de percepción social del otro, o como efecto de una destreza “maquínica” de selección estadística. En el trabajo, se analizan diversos casos que exponen variantes de estas operaciones.
“A Saúde no processo de ‘uberização da vida’: a (não) alternativa como dispositivo de interpelação que regula e reforça a as estratégias de oligopolização do poder” – Wilson do Couto Borges e Rodrigo Murtinho de Martinez Torres – Fundação Osvaldo Cruz-ICICT-LACES/Brasil
Resumo: Num quadro de crescente concentração dos meios massivos de comunicação, que conduz, numa perspectiva, a oligopolização do poder e, noutra, a uma aceleração do processo de midiatização, associado à crise política pela qual passa nossa sociedade (com efeitos conjunturais e estruturais concretos), a Saúde é tomada como política pública, campo, prática social que se estrutura nos espaços de construção da democracia representativa e da midiatização. Paralelamente, num regime onde a governamentalidade (neoliberal) é marca indelével, reforçam-se as noções do self mad man, da individuação e da autoresponsabilização, construindo o ambiente daquilo que se qualifica como “uberização da vida”, que reforça modos de ser e de fazer celebrados por protocolos tecno-midiáticos. Ao levar ao debate público uma proposta como a de plano populares de saúde, no limite, o que se opera é uma poderosa estratégia de interpelação que, ao apontar a falta de alternativas, sob a égide da liberdade individual da escolha, forja um pastiche de opções, condutas, ações políticas.
Tarde
“Cientista e Jornalista, a dupla hélice para compartilhar fazeres e democratizar saberes” - Carlos Alberto Santos – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte /Brasil
Resumo: A popularização da ciência, que tem entre seus luminares cientistas famosos como Michael Faraday, que entre 1826 e 1862 chegava a reunir na Royal Institution mais de 400 pessoas nas manhãs de sábado para ouvi-lo contar a história química de uma vela, sempre enfrentou desafios para sua identidade e valorização. Nos tempos modernos podemos indagar, como fez Philippe Roqueplo, um dos primeiros estudiosos do impacto da ciência na sociedade, se ao público interessa realmente a difusão dos conhecimentos científicos. De outra parte, uma vez processada essa difusão ao grande público, no momento em que recursos tecnológicos de comunicação permitem a livre comunicação, fora do controle orgânico das instituições produtoras do conhecimento, cabe questionar que consequências para a sociedade como um todo resultariam dessa atividade pelo fato de ser operada por lógicas de diferentes campos do conhecimento. Pretende-se aqui mostrar como a parceria entre cientistas, detentores dos processos de criação do conhecimento, e jornalistas, detentores da arte da comunicação pode contribuir significativamente para o conhecimento público, e como isso pode enfrentar os danos causados pela pseudociência, que vem ganhando espaços cada vez maiores, oferecidos pelos recursos tecnológicos da comunicação digital.
“Mediatização e história da circulação de discursos sobre a ciência na França” - Suzanne deCheveigné - Centre National de la Recherche Scientifique/França
Resumo: Nossa fala busca refletir sobre aspectos do desenvolvimento da história do movimento do discurso público sobre a ciência na França desde o século XIX. Examinaremos algumas características específicas do discurso sobre a ciência, mas também sobre o impacto das mudanças nas técnicas de mídia sobre o discurso cientifico, através de uma análise em termos de cobertura da mídia. Nesse contexto, questionaremos o lugar da mudança do conhecimento científico na construção e no desenvolvimento da experiência do debate na sociedade democrática.
SEXTA-FEIRA, 30/11
Manhã
“Intelectuais negras em tempos de intensa midiatização: reflexões sobre representação e representatividade” - Laura Guimarães Corrêa – Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil
Resumo: Imagens e vozes de grupos subalternizados multiplicam-se nos espaços de discussão e de visibilidade hodiernos das redes sociais online. Nesse contexto, diversas reivindicações de mulheres ativistas, intelectuais e celebridades negras emergem nas disputas de sentido contemporâneas, desestabilizando construções de sentido solidificadas. Utilizando-se de ferramentas de automediação (self mediation) contemporâneas, especialmente o Instagram, intelectuais contemporâneas colocam suas ideias, assim como seus rostos, cabelos e corpos negros na rede, como estratégia política de visibilidade e afirmação de identidades. A socióloga Patrícia Hill Collins destaca a importância da autodefinição e da autovalorização das mulheres negras em oposição à adesão a representações externas solidificadas. A proposta para essa intervenção é olhar para esses textos e imagens pensando os múltiplos significados dos conceitos de representatividade e de representação (política, imagética, social), assim como a ideia de empoderamento pessoal e coletivo, em tempos de intensa midiatização e circulação de discursos de/sobre os grupos chamados minoritários. [Atualizado]
“A primeira vítima da guerra: dos estatutos de verdade e realidade no mundo contemporâneo” – Aruã Lima – Universidade Federal de Alagoas/Brasil
Resumo: No final de 2010 eclodiu a chamada “Primavera Árabe” na maior parte dos países de maioria muçulmana do Mediterrâneo. Este movimento iniciou um efeito em cascata de queda de inúmeros regimes. Alguns casos podem ser destacados: os regimes de Muammar Al-Gadaffi, na Líbia, de Hosni Mubarak, no Egito, de Zine El Abidine Ben Ali, na Tunísia dentre outros exemplos. O caso, no entanto, mais longevo, consequente da “Primavera Árabe”, é a Síria, sob governo de Bashar Al-Assad. Desde 2011, envolvida em uma sangrenta guerra que já ocasionou a morte de mais de 500 mil pessoas, criou um número impreciso de refugiados. Este conflito combina elementos complexos da geopolítica mundial pós-guerra fria com a fluidez e rapidez com que informações são veiculadas. Neste sentido, uma guerra por legitimidade de narrar o real e, principalmente, por fidedignidade, se instaurou, mobilizando elementos do que Edward Said convencionou chamar de orientalismo e aqui, reside, precisamente o objetivo desta comunicação: avaliar, de maneira tangencial, a cobertura midiática de meios de comunicação de Rússia, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e França, vis-à-vis conceitos como imperialismo, orientalismo e civilização.
Tarde
“Semióticas cotidianas, a necessidade de outras epistemes ressignificações inferenciais” - Pedro Russi – Universidade de Brasília/Brasil
Resumo: A proposta é refletir sobre a necessidade de outras epistemes, outros saberes cotidianos que não se encaixam no dever-ser das academias, dos informes quantitativos, dos enquadramentos e exigências mensuráveis. Nesse sentido, propõe-se caminhar nos sendeiros das semióticas cotidianas, entendidas como menores, como senso comum, como forma de entender o cotidiano como laboratório abdutivo, i.e., em contraponto aos epistemicídios cometidos desde a higienização dos saberes pelo dever-ser dos moralismos acadêmicos. Dessa maneira, a semiótica pragmaticista, pelo seu sentido sócio-crítico, permite compreender as estratégias de ressignificação das narrativas estabelecidas no cotidiano defrontando o statu quo jurídico, econômico, político, religioso. Essas outras epistemes que advêm dos povos originários (indígenas, africanos, latino-americanos, de resistências, populares, etc.), estão presentes e devem ser aceitos, compreendidos e também reinterpretados no contexto das pesquisas acadêmicas. Enfim, a ideia não é separar ou dicotomizar as diversas epistemes, senão, torná-las interdependentes - como interdependências de saberes - em contraponto às inter-multi-transdisciplinaridades que ainda mantêm as matrizes de disciplinas.
Mesa CISECO
Encerramento